terça-feira, 28 de agosto de 2007

Alma luz



Minha alma tem
O peso da luz

Tem o peso
Da música
Tem o peso da
Palavra nunca dita
Tem o peso de
Uma lembrança
Tem o peso de
Uma saudade
Tem o peso de
Um olhar.

Pesa como
Pesa uma
Ausência
E a lágrima
Que não se chorou
Tem o imaterial
Peso de uma
Solidão no meio de outras.

(Clarice Lispector)

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Carta aberta aos homens por ele.

Amigas, peço a devida licença para me dirigir exclusivamente aos meus semelhantes de sexo, esses moços, pobres moços, neste panfleto testosteronizado. Sim, amigas, esses seres que andam tão assustados, fracos e medrosos, beirando a covardia amorosa de fato e de direito.

Destemidas fêmeas, caso notem que eles não leram, não estão nem ai para a nossa carta aberta, recortem e colem nas geladeiras , tirem uma cópia e preguem no banheiro, na mesa do computador, na cabeceira, deixem esta crônica grudada na tv, mas não antes do futebol, pois há o risco de simplesmente ser ignorada, enfim, me ajudem para que esta minha carta aberta aos rapazes chegue, de alguma forma, ao alcance deles.

Amigos, chega dessa pasmaceira, chega dessa eterna covardia amorosa. Amigos, se vocês soubessem o que elas andam falando por ai. Horrores ao nosso respeito. O pior é que elas estão cobertas de razão como umas Marias Antonietas cobertas de longos e impenetráveis vestidos.

Cabróns, estamos sendo tachados simplesmente de frouxos, medrosos, ensaios de macho, rascunhos de homens, além de tolos, como quase sempre somos.

Prestem atenção, amigos, faz sentido o que elas dizem. A maioria de nós anda correndo delas diante do menor sinal de vínculo, diante da menor intimidade, logo após a primeira ou segunda manhã de sexo. O que é isso companheiros? Fugir à melhor das lutas? Nem vou falar na clássica falta de educação do dia seguinte.Ora, mandem nem que seja uma mensagem de texto delicada, seus preguiçosos, seus ordinários. O que custa um telefonema gentil, queiramos ou não dar seqüência à historia?!

Amigos, estamos errados quando pensamos que elas querem urgentemente nos levar ao altar ou juntar os trapos urgentemente. Nos enganamos. Erramos feio. Em muitas vezes, elas querem apenas o que nós também queremos: uma bela noite, ora direis, ouvir estrelas!

Por que praticamente exigimos uma segunda chance apenas quando falhamos, quando brochamos, algo demasiadamente humano? Ah, eis o ego do macho, o macho ferido por não ter sido o garanhão que se imagina na cama.

Sim, muitas querem um bom relacionamento, uma história com laços afetivos. Primeiro que esse desejo é legítimo, lindo, está longe de ser um crime, e além do mais pode ser ótimo para todos nós. Enquanto permanecermos com esse medinho de homem, nesse eterno e repetido “estou confuso” –“eu tô cafuso”, como dizia Didi Mocó!-, a vida passa e perdemos mil oportunidades de viver, no mínimo, bons momentos do gozo e felicidade possível. Afinal de contas para que estamos sobre a terra, apenas para morrer de trabalhar e enfartar com a final do campeonato?

Amigos, mulher não é para ser temida, é para nos dar o melhor da existência, para completar-nos, nada melhor do que a lição franciscana do “é dando que se recebe”, como cai bem nessa hora. Amigos, até sexo pra valer, aquele de arrepiar, só vem com a intimidade, os segredos da alcova, o desejo forte que impede até o ato que mais odiamos, a velha brochada da qual tratamos aí acima.

Rapazes, o amor acaba, o amor acaba em qualquer esquina, de qualquer estação, depois do teatro, a qualquer momento, como dizia Paulo Mendes Campos, mas ter medo de enfrentá-lo é ir desta para a outra mascando o jiló do desprazer e da falta de apetite na vida. Falta de vergonha na cara e de se permitir ser chamado de homem para valer e de verdade.

(Xico Sá)

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

E então tu guardas consigo...


"E então tu guardas consigo cada lágrima que não quer derramar, como se isso o fizesse ser homem.


Continua com os dedos vazios, enquanto tenta tocar algo que o faça queimar até a morte de teus próprios sentimentos. Tu evitas sangrar, pois não queres se curar, e nem se livrar dos ematomas que carrega nas pernas como medalhas de um amor que se acabou. Teu corpo ferido quer desagüar, mas tu insistes em permanecer quieto e sozinho, vendo tua pele ficar dormente com tamanha violência que faz contra si mesmo. Vai enfiando dentro de cada espaço vazio, um pouco das mentiras que interpreta diante do espelho. E a noite sua respiração é ofegante, pois passou o dia todo despedaçando sonhos, evitando razões emocionais, construindo um palácio de gelo ao teu redor, inventando pessoas 'boas de mais para temer' e tentando se manter de pé. Apenas existindo.
Tu sabes que a menina de sorriso profundo, lhe faz tremer ao tocar-lhe propositalmente a alma. E tu conheces o gosto em sua boca, quando ela parece lhe querer raptar. Te sentes seqüestrado de tua própria solidão. E se sente como um menino esperando pelo próximo beijo. O beijo que ela lhe dá com tanta intensidade, que chega a doer. Mas a dor é aquela que ela conhece bem. É agridoce.
E mesmo assim, tu continuas dizendo que espera por aquela que vai cortar-lhe os pulsos, para se saciar com o teu sangue. E tu diz que está bem, que se sente forte e inabalável, esperando por aquela que não o faz sentir um arrepio doce nem uma vontade passional.
Essa que tu dizes esperar é fraca, e tem na língua o veneno que o mataria insensivelmente. E tu sabes que a procura para sentir-se solitário.
A menina que sorri por ti, teve os olhos ignorados quando lhe disse aquelas 'sentimentalidades'. Ela se viu nua e com a pele de vidro, no momento em que a quis impedir de gritar as dores e amores por ti. Tu apenas sentaste calado, sentindo tua pele queimar com o calor que ela transpirava em ti. E ao perceber que o teu coração iria derreter e se transformar em lágrimas, tu se despediu. Deixando-a apenas com uma parte sua.
Mas à ela, metade não é o suficiente.


E enquanto tu guarda consigo gota a gota suas emoções proibidas, ela atira na parede o copo vazio que tu a presenteou dizendo:
"Beba devagar, querida. Até que eu volte."

(Gabriele Fidalgo)